Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
24 de Abril de 2024

Crise e corrupção abalam apoio a Dilma em cidade "mais petista" de São Paulo

Administrada pelo PT há 11 anos, Hortolândia foi a única cidade do Estado onde o partido venceu Geraldo Alckmin, mas a confiança caiu no último ano com crises política e econômica.

Publicado por Luciana Oliveir
há 8 anos

Falar em votar no Partido dos Trabalhadores (PT) tira Joana Darc de Oliveira do sério. Moradora de um conjunto habitacional na periferia de Hortolândia, reduto do petismo no interior de São Paulo, ela se exalta ao contar que "sempre votou no PT" e ajudou a eleger e reeleger os presidentes Lula e Dilma Rousseff, mas que mudou de opinião no último governo.

"Só me dei mal. Cortaram meu Bolsa Família e não me explicaram por quê. Era pouco, mas era o que eu tinha, porque estou desempregada e não consigo trabalho" , diz Oliveira, de 58 anos, que agora recorre a "bicos" para pagar as parcelas de R$ 150 do apartamento de um quarto do Condomínio Praia Grande que está comprando com ajuda do programa Minha Casa, Minha Vida. "O PT fez sacanagem com o povo que confiou nele. A gente só vê coisa errada acontecendo na política."

Seu sentimento é compartilhado por muitas das pessoas com quem a BBC Brasil conversou ao visitar a cidade, a única de São Paulo em que o Dilma derrotou Aécio nas eleições de 2014.

Mudança

Governada há 11 anos pelo PT, a cidade deu a maioria dos seus votos para Dilma nas eleições de 2010 e 2014. Há dois anos, foi a única cidade do Estado em que o candidato petista, Alexandre Padilha, derrotou o atual governador, Geraldo Alckmin, do PSDB. As próximas disputas devem, no entanto, vir acompanhadas por uma mudança no cenário político local, a julgar pelos depoimentos dados à reportagem.

"Sempre votei no PT, mas vou começar a justificar o voto. Era o partido que mais fazia promessas para os mais pobres, mas cumprir que é bom, nada", diz Nelson Alves da Silva, de 60 anos, outro beneficiário do Minha Casa, Minha Vida do conjunto habitacional onde vive Oliveira.

Questionado se está acompanhando o processo de impeachment contra Dilma, ele diz que vê notícias pela TV "quando não tem nada passando". "É ladrão acusando ladrão", afirma Silva, para quem a presidente deve ser retirada do cargo. "Você acha que ela não está metida com tudo aquilo?"

Investimentos

O grande apoio dado pela cidade ao partido se deve a alguns fatores. O primeiro deles é histórico.

Hortolândia era um distrito da vizinha Sumaré e se expandiu nos anos 1980 como uma cidade-dormitório para trabalhadores industriais e de serviços de Campinas. Nesta época, muitos operários ligados ao partido em São Bernardo migraram para lá quando as indústrias foram para a região. A cidade também passou por grandes investimentos em infraestrutura e serviços durante as administrações municipais do partido, desde 2005.

"Aqui tem muito petista, porque o PT fez muito pela cidade e deixou as pessoas contentes", diz Deny Cardoso, de 41 anos, dono de uma loja de acessórios para celular no centro da cidade. Cardoso diz ter ajudado a eleger Lula em 2002, mas decidiu não dar mais seu voto para o PT após o escândalo do mensalão.

"Agora, eles vão perder mais votos por tudo isso que está acontecendo. É muita decepção. Tem muita gente aqui torcendo para o impeachment dar certo e impedir um desastre no país. O PT não tem capacidade de governar o país."

Torcida contra

Uma das pessoas que faz parte desta torcida é o comerciante André Paschoalin, de 42 anos. Eleitor de Lula e Dilma, ele viu a clientela de sua loja de roupas em uma das ruas mais movimentadas de Hortolândia cair pela metade no último ano. "A Dilma até foi bem no primeiro mandato, mas o segundo está sendo péssimo. Olha a fila de clientes aí na minha porta", diz ele ironicamente, diante da loja vazia.

"O PT fez bem ao país, mas depois começou a roubalheira. Dizia que trabalhava pelos pobres, mas quebrou todo mundo. Precisa sair do governo o mais rápido possível para dar outro rumo ao país." Dona de um trailer de lanches instalado há sete anos em uma praça de Hortolândia, Neusa Neves, de 53 anos, também é favor do impeachment de Dilma.

Eleitora do PT desde 1989, ela foi a única da família a votar no partido em 2014, a contragosto do marido e das três filhas. Mas acredita que o governo atual é um "fracasso". "Votei né? Fazer o quê? Agora, não dá para mentir. E queria muito continuar a votar no partido, mas, do jeito que está, não dá", diz Neves.

"A Dilma não fez o que prometeu e dificultou a vida da gente. Os preços estão subindo todo dia, tem muito desemprego... E ver tanta roubalheira me dá vergonha de ser brasileira". Já Thais Helen Gomes, de 18 anos, não pretende repetir o voto da única eleição presidencial em qual já participou, em 2014, quando escolheu Dilma. Recém-chegada a Hortolândia, onde mora há três meses com a tia, ela deixou Mossoró, no Rio Grande do Norte, porque não conseguia emprego.

Trabalhava em uma padaria como beneficiária do programa Pronatec Jovem Aprendiz, criado pelo PT, mas foi demitida por conta da crise. Hoje, faz "bico" como auxiliar em uma clínica dentária. "Ter ficado desempregada não é um problema tão grande, porque a crise poderia ter acontecido com outro candidato. Mas é ridículo o que está acontecendo agora no governo", afirma Gomes.

"Sempre teve corrupção, mas agora está muito exposta. E, para mim, Dilma cometeu crime de responsabilidade. Tudo isso foi uma quebra de confiança. É melhor mudar, porque não está dando certo."

Apoio inabalado

No entanto, alguns antigos apoiadores do PT permanecem inabalados. A vendedora Cláudia Soares, de 53 anos, diz que votará no partido nas próximas eleições, "como sempre fez", e afirma ser contra o impeachment de Dilma.

"O que está acontecendo é uma briga de políticos com políticos. São partidos se levantando contra o governo para derrubá-lo" , diz Soares. "Uma mulher como a Dilma tinha que ter muito braço forte para ocupar um cargo assim, porque tem muito homem querendo o lugar dela."

Também moradora do Condomínio Praia Grande, que abre esta reportagem, a dona de casa Karla Carolina da Silva, de 24 anos, diz "preferir o PT" por "ajudar mais o povo": "Os outros partidos ajudam mais o patrão".

Beneficiária do Minha Casa, Minha Vida, ela trocou o aluguel pela casa própria com a ajuda do programa e, hoje, vive em um apartamento de dois quartos com o filho de 5 anos e o marido. Ele trabalha na indústria como cortador de chapa e ganha R$ 1,2 mil por mês, renda complementada pelos R$ 70 que a família recebe do Bolsa Família.

Silva está insatisfeita com o governo de Dilma, porque "ela prometeu muito e cumpriu pouco", em especial em relação ao apartamento onde hoje mora, que foi entregue sem piso e acabamentos. Mas diz ser contra o impeachment e afirma que seguirá votando no PT. "Pode escrever aí que a Dilma é uma * (diz um palavrão), porque ela é mesmo. Mas queria que o PT continuasse no poder, sem a Dilma."

FONTE: ultimosegundo

  • Publicações22
  • Seguidores46
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações25
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/crise-e-corrupcao-abalam-apoio-a-dilma-em-cidade-mais-petista-de-sao-paulo/336239760

0 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)